Category

Outros

Ribeirinhos da RDS do Uatumã participam de treinamento de mecânica básica

Em uma região cercada pelo Rio Uatumã o principal acesso é feito através de pequenos barcos que conduzem diariamente moradores que aprenderam a operar motores complexos através do conhecimento popular. Mas esse cenário tão distinto passou uma transformação que deve melhorar a realidade de seus moradores. No dias 20 e 21 de junho a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, localizada a 330 km de Manaus, nos municípios de Itapiranga e São Sebatião do Uatumã, sediou o curso de Mecânica básica de motor estacionário e gerador, promovido pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS) em parceria com a Moto Honda da Amazônia.
O curso capacitou 16 moradores das comunidades que vivem no entorno da RDS e teve a duração de 16 horas, das quais os alunos puderam ter noções básicas de mecânica. De acordo com Alexandre Augusto de Souza, instrutor do curso, trazer a capacitação para a comunidade ribeirinha é uma forma de  contribuir com a realidade da região fazendo com que os moradores obtenham maior desempenho e durabilidade dos motores rabeta.
O conhecimento adquirido durante o curso motivou os moradores que já fazem planos para o futuro. O agricultor Joilson Mendes, 23, viu no curso uma oportunidade de abrir uma oficina para atender os moradores que precisem de reparos em seus motores.  Já  para o barqueiro Sandro Farias, 41, o curso serviu como um forma de entender mais como funciona um motor e com isso evitar futuros danos que possam colocar em risco a vida dos passageiros.

Edenizia do Santos, barqueira de Itapiranga. Foto: Dirce Quintino

Única mulher a participar do curso, a barqueira Edenizia dos Santos, 27, acredita que o curso servirá para aperfeiçoar a sua rotina de trabalho. Edenizia  já atua como barqueira há 3 anos, o que a levou a ser selecionada para  trabalhar para Prefeitura de Itapiranga onde conduz diariamente crianças da comunidade Cesaréia para a escola. Após concluir o curso, Edenizia já pensa em retomar os estudos que foram interrompidos na 6ª série.  “Quero voltar a estudar, repassar o conhecimento deste curso para meus filhos e quem sabe cursar uma faculdade”, planeja.
Esta foi a segunda vez que a FAS promove em parceria com a Honda o curso de mecânica básica  para a população ribeirinha . A primeira comunidade beneficiada com a capacitação foi o Núcleo de Conservação Márcio Ayres, em Mamirauá, e no segundo semestre deste ano está previsto a realização do curso em outra localidade.
Confira abaixo o vídeo sobre a capacitação:

FAS e A Gente Transforma, de Marcelo Rosenbaum, lançam projeto “Molongó – o design a serviço do brincar” desenvolvido na RDS Mamirauá

 
Por Lívia Salomoni
Por meio do A Gente Transforma – liderado pelo escritório de design e inovação Rosenbaum®, Marcelo Rosenbaum e sua equipe já conheceram e trabalharam com diferentes comunidades do Brasil profundo. As imersões são guiadas pela metodologia do Design Essencial, que usa o design como ferramenta para estimular a reconquista de valores essenciais em comunidades conectadas com a ancestralidade, o sagrado e a natureza, valorizando a economia criativa local.
Uma das mais recentes experiências foi iniciada a partir de uma imersão de nove dias na comunidade de Nova Colômbia, situada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, Amazonas, a convite da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) – em parceria com o Instituto Lojas Renner, Fundo Newton, British Council e Instituto Mamirauá. O projeto contou ainda com apoio do Banco Bradesco, Fundo Amazônia/BNDES e Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).
“No Projeto Molongó, nosso ponto de partida foi unir três aspectos: uma demanda da comunidade Nova Colômbia para desenvolver atividades com uma espécie de árvore de grande potencial ecológico de manejo – o Molongó; a experiência da FAS no desenvolvimento social e econômico de comunidades; e a visão de um grupo de alto nível que é o A Gente Transforma”, comenta Virgílio Viana, Superintendente Geral da FAS.

Gabriel Ribenboin, da FAS, e Marcelo Rosenbaun no lançamento do Molongó em São Paulo

Nova Colômbia: o território de atuação do projeto
Nova Colômbia é uma comunidade ribeirinha formada por 12 famílias, que tem como principal fonte de renda a pesca, agricultura familiar e o artesanato – feito a partir da madeira do Molongó, árvore abundante na região. “Nova Colômbia é a base de implementação deste projeto pioneiro, que respeita o ciclo de crescimento destas árvores altas, finas e de madeira leve. Cada uma só pode ser cortada com a idade mínima de 33 anos”, conta Marcelo Rosenbaum. “O projeto faz parte de uma estratégia de valorização da floresta em pé, que resulta do manejo da espécie somado à própria cultura local. Por sua leveza e facilidade de entalhe, essa madeira sempre foi utilizada pelas populações tradicionais desta região”, complementa Virgilio Viana.

Na primeira visita à Nova Colômbia, também integraram a equipe o designer holandês Bertjan Pot, o brasileiro Paulo Biacchi, a inglesa Sarah Colson e o pesquisador e curador de design português Frederico Duarte.
 
“Coleção Molongó – O design a serviço do brincar”
A experiência na RDS Mamirauá com a comunidade de Nova Colômbia concretiza o entendimento e a provocação do FAS e do A Gente Transforma de que é necessário trabalhar para além da noção de Unidade Produtiva. “Hoje há um olhar do mercado que muitas vezes enxerga uma comunidade a qual não teve acesso a oportunidades e à educação formal como uma Unidade Produtiva de algo. Isso vem relacionado a termos como baixo índice de desenvolvimento humano, em um discurso que busca ‘capacitar’ essas pessoas. No fim, dentro dessas noções, a comunidade acaba produzindo algo que não poderá consumir – ‘faz, mas não usa’. Buscamos romper com esse entendimento. Olhamos para a necessidade da comunidade, antes de olhar para a necessidade do mercado de decoração”, conta Marcelo Rosenbaum.
Utilizando o design como ferramenta para dedicar esse olhar para a própria comunidade, identificou-se a possibilidade de atuação dentro do mercado local, em parceria com o Programa Primeira Infância Ribeirinha (PIR), desenvolvido pela FAS. “Apoiar a iniciativa de confecção de brinquedos com madeira da região por artesãos locais e garantir que esse recurso seja utilizado por pelos Agentes de Saúde como estímulo ao brincar com crianças e famílias da região, é garantir sobretudo o resgate de valores locais.” Nathalia Flores, coordenadora do Programa de Educação e Saúde da FAS.
Diante desse contexto, o A Gente Transforma desenhou uma coleção de brinquedos educativos de Molongó, inspirados em referências culturais locais. São jogos de memória, quebra-cabeças de 3 a 9 peças e outros brinquedos que resultaram do diálogo com os profissionais do Programa Primeira Infância Ribeirinha, norteado pela compreensão das demandas dos Agentes Comunitários de Saúde, das mães e das crianças, sem perder de vista a possibilidade de aumentar o aproveitamento da madeira da árvore do Molongó, com ferramental ideal, melhorando não só manejo da árvore, mas também da madeira beneficiada durante o processo.
A Coleção Molongó encontra-se hoje em desenvolvimento e a compra dos equipamentos para a produção das peças criadas está programada para o segundo semestre deste ano. Até o final de dezembro, 80 agentes comunitários de saúde já trabalharão com os novos kits de brinquedos, através do Programa Primeira Infância Ribeirinha com o apoio da Johnson & Johnson. No próximo ano, está programada também uma segunda produção, destinada às próprias famílias, que receberão os brinquedos em suas casas. A coleção desenvolvida em Molongó cumpre papel educativo, alimenta a identidade e o imaginário coletivo, resgata o brincar.
A partir de Nova Colômbia, outras comunidades da região que também tem o Molongó como atividade produtiva poderão se beneficiar desta parceria. “Como um desdobramento a ser explorado, o Molongó tem ainda o potencial de criar uma relação desta comunidade com um público que tem uma visão estética sofisticada, que valoriza o comércio justo e, com isso, pode desejar apoiar um projeto como este, que busca a valorização da floresta em pé, a melhoria da qualidade de vida e a redução do desmatamento na região”, pontua Virgílio Viana.
 

Exposição das colheres-galho no lançamento do Molongó, em São Paulo (Foto: Gabriel Ribenboin/FAS)

Colher “Galhos do Molongó”, assinada pela designer inglesa Sarah Colson, foi lançada durante a Feira na Rosenbaum com renda revertida para o projeto.
 
Logo no início do trabalho em Nova Colômbia, o grupo de designers percebeu que perto de 70% da árvore era desperdiçada no processo. Ao buscar uma maneira de lidar com esse descarte, a designer Sarah Colson e a equipe do A Gente Transforma visualizaram uma parte da árvore que dificilmente é aproveitada. Inspirada em produtos já produzidos pelas comunidades locais, Sarah transformou os galhos da árvore em colheres – os Galhos do Molongó. Para Marcelo Rosenbaum, essa peça é um importante símbolo do processo criativo coletivo em Nova Colômbia.
Para além do objeto de design, que cumpre uma função sustentável importante, as colheres irão viabilizar os próximos passos do projetos. ‘Galhos do Molongó’ foram lançados e vendidos durante a Feira na Rosenbaum – edição Design Weekend, com renda revertida para a continuidade de ações vinculadas ao Projeto Molongó.
 

Apresentações de teatro e dança marcam o encerramento do Incenturita na comunidade do Abelha

Na última sexta, 04, o Núcleo de Conservação da Comunidade do Abelha, localizado na RDS do Juma em Novo Aripuanã, distante 225 km de Manaus, foi palco do espetáculo de encerramento do segundo módulo do Projeto de Incentivo à Leitura e Escrita – Incenturita, iniciativa da Fundação Amazonas Sustentável – FAS com apoio da Samsung, Bradesco e Instituto Alair Martins (Iamar).
A atividade contou com a participação de 40 alunos que estudam integralmente na Escola Municipal Victor Civita e marcou o encerramento do ano letivo dos estudantes da região, o qual é antecipado devido ao período de seca do rio Marepaua, afluente do rio Madeira. Ao contrário de outras localidades, na comunidade do Abelha o Incenturita é oferecido como atividade dentro da grade curricular do ensino.

Autonomia e criação

Como resultado dessa imersão, os alunos conquistaram uma autonomia para definirem como seriam suas apresentações e demonstraram um pouco do resultado do aprendizado obtido com o projeto, como é o caso do jovem Alailson Ribeiro, 16, morador da comunidade Santo Antônio.  “Eu participo do Incenturita há dois anos e o projeto fortaleceu a minha criatividade. Antes eu tinha vergonha em falar perante o público e agora eu me tornei uma pessoa que eu jamais podia imaginar que me tornaria, pois consigo me comunicar melhor hoje em dia e ainda atuo”, reconhece Alailson.
O imaginário amazônico difundido nas lendas serviu como referência para o tema das peças. Através de fantasias, coreografias e desenhos corporais, a lenda do guaraná, o misticismo da dança do pajé foram usados nas apresentações, bem como a clássica história da Formiga e a Neve, do gênero textual lenga-lenga que é muito utilizado para desenvolver as habilidades de leitura e escrita.
Longe de grandes palcos, os alunos do Incenturita da comunidade do Abelha mostraram que a distância e a simplicidade não é empecilho para emocionar o público. “Achei linda a apresentação porque demonstra o trabalho que os professores tem feito e investido. Isso é o reflexo de que os alunos estão aprendendo”, afirma a nutricionista Bárbara Carvalho.